De adepto a cliente...

Enquanto vou imprimindo mais umas aulas dos maravilhosos apontamentos de Micro, e aproveitando este período de hiper actividade do blog - que nãoo reflecte mais que a decrescente vontade de estudar - vou postar sobre um assunto que ontem muito me sobressaltou.
Acontece que parece que o nome do Estádio do Benfica está à venda, o que quase me provocou uma diarreia que nem a Shigella conseguiria provocar (e fica para a retina a primeira tentativa de humor estúpida com bactérias).
Sentimo-nos sempre ultrajados quando se vende uma coisa que nos faz feliz. É comum a desilusão quando um poeta ou músico se expressa de maneira contrária à nossa opinião, é triste que uma figura pública de quem até gostávamos comece a prostituir-se a uma multinacional qualquer. E no futebol eu cada vez mais sinto isso. Caminha-se de forma irrecuperável para a "NBA". Primeiro a lei Bosman, depois a proibição de colocar faixas "porque tapa os patrocínios", depois o símbolo da PT é maior que vermelho da camisola do clube Campeão, e agora, infâmia das infâmias - querem mudar o nome a estádio. Provavelmente agora estão todos a rir-se ("Coitado. Preocupa-se com estas coisas...") e não vos censuro. Poucos de vós devem estar ligados emocionalmente a um clube como eu estou ao Benfica. Mas pergunto-vos: se os livros de Pessoa começassem a vir com patrocínios (estilo: "Pessoa se fosse vivo usava colgate!") ou mesmo CDs (esses praticamente já estão, mas imagine-se que pegavam em figuras míticas - esta é para ti Hugo - e punham: Jeff Buckley no Pepsi Challenge), nã0 começavam a ver cair os vossos mundos?
O irónico é que uma hipotética mudança no nome da Catedral do futebol português nada mudar , já que o seu nome oficial "Estádio do Sport Lisboa e Benfica" também é subsituído por essa alcunha mágica "Estádio da Luz", mas a acontecer será mais uma vitória das multinacionais sobre as nossas coisas. É que se na hora de gastar balúrdios com estádios no Euro2004 (coisa que sempre me fez espécie, mas enfim...) eu - como cidadão - preferia que os dinheiros do estado tivessem sido poupados e que se fizesse um Municipal de Lisboa em vez de dois estádios (sempre era uma hipótese do estádio dos verdes ver um título....), o que aqui está em causa não é a cidadania, é a filição a algo (seja isso estúpido ou não).
E isso deprime-me bastante. Uma pessoa já não pode simplesmente gostar de alguma coisa com uma ilógica total que há uma probablidade enorme de essa entrega ser um "nicho de mercado" e que de adeptos passemos a clientes e consumidores.
Tenho medo de um dia poder a ver um jogo de futebol sentado, com batatas fritas e coca-cola, enquanto espero que a decisão do árbitro seja verificada num ecrã gigante. E caminhamos irremediavelmente para lá se continuarmos a deixar que nos tirem os símbolos e o afecto por eles em nome de mais uns trocos.
Enfim, este foi o meu post desalentado que não interessa a ninguém.


PS: cometi um erro. O estádio dos verdes já viu um título: A Taça Uefa.