HSM - pediatria

"...como as crianças que despertam e sorriem lapidarmente, e morrem sem que se note, na própria clareira viva do seu sorriso." Herberto Helder
A criança brinca com um coração-berlinde, uma cicatriz atrófica corta-lhe a pureza branca do pulso esquerdo. Crescem flores-granada verdejando lençóis hsm e antecipo um enterro duplamente ao comprido na terra. A criança-soldado dispara-me um bala pelo canto do olho, uma lágrima morta na inclinação do rosto. Pasmo-me com a quietude de final de tarde neste orifício retalhado num ventre estéril. Há muito que não vejo as ruas do grande monstro cinzento como artérias de um edifício materno. Explode-me nas pregas da carne um parto de medos. Estremeço. Enlouqueço. E lembro. Deito-me com a criança-criança. Sorri vagamente, coloca o berlinde na minha mão esquerda, sorri outra vez, quase um riso com som de bosque, e diz-me ao ouvido"...", e eu mal noto, já estou a tirar a bata, dobrando-a sem cuidado, estou parada no meio de um corredor pardo, caio de joelhos, caio de cara no chão, sinto mais uma pontada na cicatriz, e quase que posso jurar que vi a criança espreitar-me por detrás dos cacifos.