O partido e o povo
O nosso tão estimado primeiro ministro teve mais um momento digno de registo numa entrevista da rtp, ontem.
Falava ele sobre a actual situação do seu partido, queixando-se da falta de apoio que tem sentido. Então, disse em sua defesa (não ipsis verbis, mas qualquer coisa próxima): Eu sei que critiquei muitas vezes o meu partido e fui responsável por muita polémica, mas! (e agora o pormenor brilhante) nunca o fiz quando o PPD/PSD estava no governo.
Esta frase passou algo despercebida, o que não me espantou muito. Mas, como já começo a ficar farto destas perólas a que ninguém liga muito, resolvi desabafar convosco.
Ora então vamos lá do início...
Em democracia o poder deveria ser do povo, pelo povo e para o povo. Esta é a definição clássica tripartida que dá tanto poder a este modelo de governo de estado. Como uma democracia directa foi tomada como inviável por quase todos os estados do mundo actual (qualquer dia podemos discutir este ponto também), a maioria destes optou por uma democracia representativa. Assim, os nossos representantes são eleitos pelo povo, para governar para o povo. Acho que nisto estamos todos de acordo...
Sendo assim, quando o senhor Pedro Santana Lopes, ou outro qualquer dos nossos representantes políticos, discorda de uma medida ou posição de quem quer que seja (do seu partido, ou não) deve discuti-la e defender a sua posição, quer o seu partido esteja ou não no governo. Porque raio é que só podemos discordar quando não é o nosso partido a governar. Bem, a única razão que encontro é: porque os interesses do nosso partido estão acima dos do povo.
É triste, mas é verdade. Actualmente, vive-se precisamente nestes termos: os partidos políticos são encarados como prioridade absoluta pelos seus militantes. E já ninguém se dá ao trabalho de tentar esconder isto, até porque ninguém liga muito de qualquer maneira.
Como dizia o Mário Soares a semana passada (sem qualquer autoridade moral, mas com toda a razão): Se isto fosse uma coisa a sério, já tinha havido um golpe de estado.
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